quinta-feira, 3 de maio de 2012

O fim no Largo do Jardim


Meu irmão mais novo havia me dito certa vez que coisas estranhas aconteciam naquela casa verde ao fim da rua. Eu nunca acreditei. Será que ele estava mesmo certo? Procuro sinais, mas nenhum vestígio encontro. Era como se aquele local nunca tivesse sido habitado, mas ao mesmo tempo lembro-me de cada lugar como se fosse algo familiar. Tudo é muito escuro e a frágil iluminação que ainda resta parece se esgotar pouco a pouco. De repente ouço o sino da igreja tocar, e corro até lá. Ao entrar na igreja, o barulho parece estar vagarosamente parando. Sento-me em uma das cadeiras ao fundo, paro e visualizo as imagens. As imagens de santos e padroeiros não estão mais lá. No lugar delas há apenas a silhueta de seres que não parecem com nada real. E ao dispersar meu olhar dos quadros sinto a presença de alguém ao meu redor. Procuro em todos os cantos, mas não vejo nada, mas ao olhar para o meu lado esquerdo vejo meu irmão agachado no banco do centro, aparentemente chorando. Aproximo-me com cuidado para não assustá-lo. Lentamente estendo minha mão em tremores de medo até o seu ombro. Ao tocar o primeiro dedo sobre o seu ombro, ele vira-se e me deparo com um olhar assustador. Aquele não era o meu irmão. Saio correndo pela rua já deserta, e liberto gritos de pavor com intuito de encontrar ajuda, mas ninguém me escutava. Encontro um singelo barraco onde os homens de rua costumavam dormir nas noites frias de julho, e lá me acolho. Mal consigo dormir em conseqüência do frio e muito mais pelo temor.
 É manhã, o sol nasceu de um jeito diferente hoje. Saio daquele barraco sentindo na pele o odor forte e ruim deixado pelos homens pobres. Tudo ainda parece deserto, mas de repente vejo uma janela se abrindo na casa verde onde costumávamos pregar peças nos moradores. Aquela casa era propriedade de um gringo qualquer que a alugava todo o mês para um cliente diferente, e eu e meu irmão adorávamos incomodar os sempre novos moradores de lá. Corro em direção a casa, e entro sem bater. Ao entrar na cozinha me deparo com uma senhora cozinhando. Tento chamá-la, mas ela parece não me ouvir. Tento tocá-la, mas ao perceber minha aproximação, ela esquiva-se para longe de mim. Assento-me na sala em já em prantos. Em meio ao desespero, vejo um jornal largado em cima da mesa de jantar e o pego. Ao abri-lo, encontro na primeira página a seguinte manchete: “Menina é morta no Largo do Jardim e nenhum suspeito é encontrado”. A ficha finalmente caiu. Caminho alguns passos em direção do quarto da senhora. Entro. Visualizo o espelho. Aquela era a hora da confirmação. Dou mais dois curtos passos de olhos fechados, desta vez em direção ao espelho. Paro. Abro os olhos. Não vejo nada dentro do reflexo. Fico paralisada por alguns segundos. E em seguida apenas ouço a seguinte frase dita pela senhora: Bem-vinda menina, você está morta.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Porta

Uma, duas, três, quinze.
São quinze barras de ferro
Em volta, seu formato rústico.

Tem um vidro
Que ninguém consegue ver
E só os raios podem quebrar.

O arco mostra a paisagem
Duas flores mortas lá fora
Onde o frio embaça a vista.

Tente abri-la,
Tente sair,
Se abrir, não esqueças de fechar.
Se sair, não esqueças de voltar.

Aqui ou lá?


Quantas palavras amor,
Eu te diria
Se te tivesse aqui comigo.

Quantos beijos amor,
Eu te daria
Se te tivesse aqui comigo.

Quantos carinhos amor,
Eu te faria
Se te tivesse aqui comigo.

Quanta alegria amor,
Tu me trarias
Se estivesse aqui comigo.

Mas não está.

Quanta tristeza amor.
Eu sinto
Por não te ter aqui comigo.

Quanta saudade amor,
Eu sinto
Por não te ter aqui comigo.

Quanta dúvida amor,
Eu tenho
Por não saber se um dia te terei aqui comigo.